terça-feira, 28 de setembro de 2010

Motivo


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Cecília Meireles

sábado, 18 de setembro de 2010

Abismal


Meus olhos estão olhando
De muito longe, de muito longe,
Das infinitas distâncias
Dos abismos interiores.
Meus olhos estão a olhar do extremo longínquo
Para você que está diante de mim.
Se eu estendesse a mão, tocaria a sua face.

Por: Helena Kolody.

sábado, 11 de setembro de 2010

A Contradição


É certo que todos os seres humanos passam a vida toda em uma busca por si mesmos
e são poucos aqueles que conseguem se encontrar.
Alguns se encontram no abstrato, outros naquilo o que é concreto, entretanto, há os que se sobressaem e encontram-se na simplicidade.
Definir-se é limitar-se, isto é fato. Porquanto a definição impossibilita que saiamos das linhas pelas quais nos mesmos traçamos.
É certo que tentei por muitas vezes definir-me e tentando encontrar respostas a perguntas sobre mim, me percebi contraditória.
Pois quando sou ódio, é porque quero ser amada,
quando sou guerra, é porque busco por paz,
quando digo não, ecoa um sim dentro de mim,
quando firo alguém, é porque quero que fechem a minha ferida,
e enquanto luto por dinheiro, só quero as coisas mais simples da vida.
Em meio às respostas que tive, me contentei quando em parte me encontrei,
descobri que ainda que em alguns momentos eu seja leviana...
não sou apenas ser, visto que em essência, sou humana.

Por: Adriani Bolato.
21 de agosto de 2010.